História viva

ventura

O futebol tem ficado um saco. É muita “marra” e ostentação da boleirada em geral pra pouca identificação com as cores dos clubes.  Nem preciso entrar em todo aquele clichê do torcedor médio de que, hoje em dia, o jogador joga em certo time num ano e no ano seguinte já está jogando em outro, etc, etc. Os “ídolos” presentes na mídia abusam da pedância e geram uma idolatria “pasteurizada”, conduzida pelo media training. E não deixa de ser um fato inegável o de que, no futebol atual, poucos clubes tem o privilégio de contar com ídolos de verdade em seus escretes. O Paraná Clube é um deles.

Um ídolo pleno não precisa ter ganhado Copa do Mundo, ser conhecido em todo o mundo futebolístico, ser um destaque da mídia mundial. Tudo isso ajudaria muito, seria um upgrade, mas não é necessário. Um bom ídolo mostra sua identificação com as cores e ajuda, do jeito que pode, o clube que tanto gosta. Pode parecer “pouco”, mas pouca é a quantidade de jogadores que atendam a esse quesito atualmente.

Marcos e Lúcio Flávio são dois deles. O maestro “LF10” saiu do Tricolor com a taça do módulo amarelo da Copa João Havelange e nunca jogou na Europa, nunca chegou à seleção, mas rodou por outros grandes clubes do Brasil e foi, por um bom tempo, saudado pela mesma torcida que já saudou Garrincha e Milton Santos. Da parte paranista da “história”, apenas pesa contra si o período que passou jogando no lado verde de Curitiba, fato que suja um pouco seu currículo, é verdade. Mas Lúcio Flávio se redimiu e voltou ao Paraná tendo ainda – nas palavras dele – pelo menos mais três anos de vida útil no futebol e, além de ser titular dentro de campo, também tem seu papel fora dele.

Marcos não tem “renome” na mídia nacional e também não chegou à seleção. Mas, em Portugal, foi um goleiro de destaque no Marítimo e no Braga e atingiu o ápice de sua carreira ao disputar a Champions League, principal competição europeia. No Paraná, também ganhou a João Havelange com atuações primorosas, manteve o clube semPRe na primeira divisão nacional e agora retorna para tentar levá-lo de volta para lá. Mas nosso goleiro, arrisco dizer, tem algo que nenhum outro ídolo brasileiro tem atualmente: Marcos JAMAIS jogou em qualquer outro clube do BRASIL! Isso é inédito e totalmente louvável. E olha que, por conta de seu desempenho na ~terrinha~, certamente ele deve ter tido algumas sondagens de clubes tupiniquins.

Mas tanto Lúcio Flávio quanto Marcos tem algo que falta a pseudoídolos e sobra a ídolos de verdade: a simpatia e a empatia pelos torcedores e fãs. O “passageiro da alegria”, em todas as suas aparições em meio à torcida, seja em eventos do clube, seja em eventuais encontros, semPRe trata todos cordialmente e com muita paciência. E a mesma coisa pode-se dizer de Marcos. No último domingo, tive a honra de receber das mãos dele a camisa sorteada pela Paranautas em virtude da ação social de Páscoa. É impressionante a humildade e a cordialidade com que o “Marcão” trata os torcedores.

Marcos surpreso com a camisa do Feirense (seu último clube em Portugal) que lhe pedi para autografar: interação muito agradável – Foto: Cleverson Ferreira

 

Mais do que isso, há algo que considero fascinante e que quero relatar. Durante a entrega da camisa, enquanto abordávamos Marcos, chegaram suas filhas – trajadas de Paraná Clube da cabeça aos pés – correndo para abraçá-lo. “Parabéns, papai!! Nossa, foi muito legal a torcida gritando ‘Marcos! Marcos!’ Parabéns!”, disse a mais velha. Marcos agradeceu, visivelmente comovido pelo gesto da filha. Em seguida veio a mais nova, também parabenizando e abraçando o paizão Tricolor. Sinceramente, eu – pai de duas filhas também – fiquei emocionado com aquela cena.  Além de um jogador importantíssimo para nossa história, Marcos está passando o paranismo adiante. Isso não tem preço e, também, poucos ídolos fazem.

Filha caçula de Marcos corre para abraçá-lo: ídolo paranista de verdade passa o paranismo adiante! – Foto: Cleverson Ferreira

 

E é por isso que a torcida paranista precisa acordar. É nítido que ainda “não caiu a ficha” de que temos ídolos sinceros, importantes e reais no elenco, independentemente de renome ou destaque na mídia. Nossas Vilas Capanema e Olímpica precisam de mais gente para testemunhar este momento ímpar na história do clube.

Post scriptum: Quero agradecer à equipe da Paranautas e ao goleiro Marcos pela honra concedida no último domingo. A propósito, parabéns ao portal pela Ação Social que culminou no sorteio do meu cupom, são propósitos como esse que estimulam a paz e a boa convivência no futebol também fora de campo.

Vejo você na Vila! (agora também na Olímpica)

Henrique Ventura

@henventura

Todos os domingos, aqui na Paranautas!



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