Quando a hiena ajuda a zebra

Na última segunda-feira, representantes do Paraná e de outros dois clubes da cidade fizeram uma entrevista coletiva conjunta para anunciar apoio a um candidato à Federação Paranaense de Futebol. Dentre outras ladainhas da entrevista, saltou aos olhos a “bondade” dos presidentes de atlético paranaense e coritiba em dizer que ajudarão o Paraná Clube, tanto inserindo nosso Tricolor “na hora certa” nas ações conjuntas, como emprestando jogadores para a disputa da série B.

Imediatamente a imprensa e alguns torcedores desavisados se mostraram tocados por tão nobre gesto por parte dos dirigentes. Mas, se você enquadra-se nesse grupo que achou linda essa entrevista – especialmente nesse trecho -, lamento, terei que decepcioná-lo apresentando alguns motivos para colocarmos as barbas de molho nessa história toda.

Sinceramente, não sou neandertal a ponto de achar que clubes rivais (ou ~coirmãos~) não devem manter boas relações entre si fora de campo. Mas esse papinho colocado no ar na entrevista em questão está estranho. Explico.

Para começo de conversa, convido o paranista a um exercício de memória, lembrando que o “Capo” do final da Rebouças é partidário da ideia de que não cabem três times de futebol na capital nacional do céu cinza. Aí, de repente, do nada, ele surge com um discurso de união enaltecendo uma suposta vontade de “ajudar” o Tricolor. Que excelente regeneração, não, Petraglia?

Por segundo, nunca houve um lobby tão grande e uníssono em favor de um candidato à presidência da FPF, inclusive por parte da imprensa. Se Gomyde ganhar, quem será que vai realmente dar as cartas no futebol do estado? Quem passará a ganhar benefícios específicos? Lembremos, pois, a série de tentativas, há uns anos, do mandatário atleticano em fazer o atual presidente da FPF, Helio Cury, impor as vontades rubro-negras goela abaixo dos coirmãos. Será que tais tentativas frustradas não foram um dos principais motivos para essa insurgência liderada por Petraglia?

Terceiro, que ajuda é essa? Emprestar jogadores – de qualidade igual ou pior à dos que já temos no elenco -, onerando ainda mais a folha do Tricolor, ajuda mais a quem? Ao Paraná ou a quem desafoga seu elenco? Cabe informar que um jogador emprestado do atlético paranaense recentemente foi um dos responsáveis pelo bloqueio em penhora da verba do patrocínio da Caixa no ano passado.

Será que Petraglia e Bacellar gostariam de ajudar de verdade, emprestando sem valor de aluguel a Arena ou o Couto Pereira para jogos de maior apelo do nosso time, por exemplo, para que não precisemos vender o mando para ter maior arrecadação?

Além disso, dos times da capital, o Paraná é o único que tem algo que interessa ao poder público do município: um imóvel “negociável” em área central, ideal para vários fins. É claro que, olhando assim, passamos a ser interessantes para a dupla MelanCia. Por conveniência. O risco de sermos engolidos após uma grande negociação que “beneficie” a todos os clubes é grande. Aí o Paraná voltaria de ser desinteressante para a duplinha e ficaria como a virgenzinha recém-maculada, sem cabaço e sem casamento.

É claro que, em caso de má administração, também seremos engolidos de qualquer jeito – mas aí atingimos outro ponto da discussão, que foge do tema dessa coluna.

Onde quero chegar é que sim, é louvável um ótimo relacionamento entre os times do Trio de Ferro. Mas é inadmissivelmente suspeito que os presidentes da dupla atletiba posem com esse ar de tão bom samaritano nesse momento.

Além disso, é interessante que o Paraná busque parcerias para se reerguer. Mas que não conte tanto com essa ajuda e que pondere cada passo junto dos coirmãos, que foque nas ações de marketing que podem ser feitas em conjunto. E, é claro, busque errar menos na administração de seus recursos.

Na selva atual da nossa aldeia, nossa condição é de uma zebra caída, afastada do resto de seu rebanho (torcida), recebendo a oferta de ajuda por parte de duas hienas – bicho que come carniça e ainda assim dá risada. Cabe ao Paraná, caso aceite ajuda, que seja só até ficar de pé e, em seguida, correr a uma distância segura e convocar sua manada, pois só com ela será realmente mais forte.

Olho vivo, Tricolor!

Vejo você na Vila!

Henrique Ventura

@henventura

Todos os domingos, aqui na Paranautas



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