Desde a vitória contra o Ceará o Paraná não sabe o que é vencer na série B 2015. O que explica tamanho fiasco? Por que um elenco montado com peças que vieram com boas referências não deslancha?
Quero apresentar alguns fatores que acredito serem motivos e começo pelo treinador.
Comando x Rendimento
Nedo Xavier quase subiu o Boa por duas vezes. Mas também quase rebaixou o São Caetano para a série A3 do campeonato paulista, tirou o CSA da disputa do título alagoano, fez outros trabalhos ruins.
A imprensa em geral parece prestigiar bastante o ex-jogador do Colorado, mas a verdade é que até agora ele foi incapaz de dar um padrão mínimo ao time. Aquele feijão com arroz, sabe? Ele teve pelo menos 20 treinamentos com o elenco desde que chegou e não conseguiu sequer dar posicionamento decente à zaga – que já é tecnicamente fraca. Com 3 volantes, não conseguiu montar um meio de campo que ganhe a sobra. Além disso, há jogadores sem confiança em fundamentos básicos, como Henrique e seu pé murcho para o passe e o chute.
Defintivamente, afirmo com quase total certeza que o Paraná só tem dois caminhos com o Nedo no comando técnico: a queda para a série C ou a difícil permanência na série B. Com probabilidade maior para a primeira possibilidade.
É hora de mudar o treinador. Já! Hemerson Maria teria um bom custo benefício e está “na pista”. Outro desempregado é Claudinei Oliveira, mas aí já sabemos que não dá para confiar em contrato com ele. E pode ser que se abra a opção de Marquinhos Santos. É caro, mas um ótimo nome e, bem conversado, pode ser que aceite um salário mais próximo de nossa realidade em troca de continuar morando em Curitiba. Nos próximos 12 pontos em disputa, 9 serão contra adversários debilitadíssimos, contra os quais com um mínimo de organização tática e uma média de aguerrimento o Paraná sai vitorioso. Não é o cenário que enxergo com Nedo como treinador.
Conforto x Rendimento
Outro fator já é mais subjetivo. É um feeling meu. Pela primeira vez nos últimos seis anos parece que os jogadores (infelizmente, os funcionários ainda não) finalmente estão com salários em dia. Ponto para a primeira promessa cumprida desse grupo que atualmente gere o Paraná Clube. Mas, pelo jeito, esse tiro parece estar saindo pela culatra, por incrível que pareça.
Antes que eu seja mal interpretado, já lanço o antídoto: não estou dizendo que os salários devem atrasar, eu seria incapaz de propor seriamente esse absurdo. Mas é impressionante a diferença de aguerrimento e atenção do time que jogou o Campeonato Paranaense para o time que está em campo atualmente.
Parece até que os salários atrasados de outrora davam um maior ar de seriedade a quem jogava. Porque os jogadores atuais vem jogando de forma fria, sem sangue nos olhos, com um toque de displicência. Calcanhar e letra fora de hora, excesso de tentativas de jogadas individuais, passes e cruzamentos em que o atleta parece querer se livrar da bola. É nítida a falta de seriedade – além, é claro, da falta de padrão tático – que vejo estar ligada a esse conforto dos salários em dia. Rafael Costa e Zé Roberto são ícones desse desleixo, por exemplo.
Isso sem falar que já começaram as entrevistas-desculpa. Washington, por exemplo, ontem já falou que “Aqui todo mundo tá trabalhando, todo mundo é homem, aqui tem pais de família”. E a gente sabe que quando começa esse tipo de discurso é porque a maionese já tá desandando.
Portanto, uso as palavras de Itamar Schulle, técnico do Operário de Ponta Grossa, para citar o que é necessário para já: criar uma zona de desconforto nesse elenco. Mostrar que ninguém ali tá com a vida ganha e que dificilmente os atletas irão a algum lugar decente se o Paraná passar vergonha esse ano. Isso cabe à comissão técnica – essa ou, espero, outra – e à diretoria. É preciso chacoalhar os jogadores, chamá-los ao foco.
O cenário atual é de queda livre para a série C. É necessária atitude imediata para que não passemos susto em 2015. E isso que já estou considerando o acesso como quase impossível, para não iludir nem a mim e nem aos demais paranistas…
Abra o olho, diretoria. Por favor. Chega de humilhação.
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Lúcio Flavio
O nosso ex-camisa 10 acertou mesmo com o Coritiba para o restante de 2015. Reafirmo que isso não muda uma palavra do que escrevi em minha coluna anterior. Ele estava sem contrato, buscando um certo patamar salarial e dando preferência a continuar em Curitiba. Se ele encontrou um clube que combinasse todo esse panorama a ele, paciência.
Não vou desejar sucesso a ele agora por motivos óbvios. Mas isso não muda a importância dele para o Paraná Clube ontem, hoje e amanhã.
Mudaria se ele fizesse o que poderia ter feito, como fez o Gustavo no ano passado. Ou como fizeram outros jogadores no passado, de não aceitar a redução salarial, exigir que se cumpra o valor de contrato e fingir uma lesão. Ou, pior ainda, poderia ter ingressado na justiça. Ele não fez nada disso e mostrou enorme respeito por nossas cores. Isso é o que eu vejo, mas cada um interpreta como quiser.
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Cuidados com o clube
Ao contrário do que eu havia previsto, me parece que a unificação dos planos de sócio foi realmente uma boa ideia. Vai movimentar mais a parte social do clube e dar vida às dependências. Mas, poxa, ainda falta capricho. Como chamar de volta as famílias ao clube se a piscina térmica está cheia de limo (fora as pichações, às quais dou um “desconto” pelo preço que custa trocar os azulejos)? Se há lixo de dias no chão dos arredores das piscinas? Se há irregularidades não sinalizadas no chão que podem causar acidentes a idosos e crianças?
Não falo nem de investir dinheiro pesado nisso, mas é questão de higiene, de designar alguém para cuidar disso e alguém para cobrar que a situação não fique tão feia. Finalmente migrei para o plano familiar. Eu conheço e entendo a realidade do clube, mas gostaria que o clube que amo e que minha esposa e minhas filhas passarão a frequentar ofereça condições mínimas de asseio.
Vejo você na Vila!
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Henrique Ventura
@henventura
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