Aviso: esta coluna pode doer.
Neste dia 19 de dezembro de 2016 o Paraná Clube completa 27 anos. Há exatos dez, terminamos os anos sem ter o que comemorar, apenas celebrando glórias do passado ou feitos isolados de momento. Inclusive, semPRe foi a postura desse portal de fazer algo nesse sentido. Mas, nesse ano, isso não vai acontecer. Não teremos nenhuma matéria ou texto celebrando o aniversário. E isso é fácil de entender.
2016 foi um ano muito dolorido. Desde a eliminação nos penaltis no campeonato estadual, frustrando as expectativas criadas por um belo início de temporada, até a perda de nosso ídolo Caio Junior, passando pelo pior Campeonato Brasileiro da Série B de toda nossa história desde que caímos e uma série de desrespeitos ao torcedor e ao sentimento paranista, o torcedor ganhou inúmeros pretextos (ou mesmo razões) para se afastar.
Com o fim da temporada passamos a renovar aquela esperança de que o ano seguinte será diferente. Mas acho que temos que pensar além disso. Que tal repensarmos o tamanho do nosso amado Paraná Clube?
Não tiro totalmente a razão de quem acha que deveríamos subir a qualquer custo para a primeira divisão. Foram quinze anos a fio por lá, desde praticamente o começo da nossa história. Além disso, é abissal a diferença de receita oriunda de cotas de transmissão televisiva. Mas, sinto informar, isso não é tudo. Se fosse, não estaríamos hoje nessa situação cretina, pois desde os tempos “áureos” fomos absurdamente falhos na gestão e no monitoramento do clube. E afirmo dolorosamente que nossa sina, hoje, é ficar na série B até amenizar os até então 27 anos de péssima administração, visão e, é claro, grande omissão.
O que o Paraná Clube precisa fazer, de forma urgente, é jogar aberto com a torcida. Dizer: “Não vamos planejar subir, por enquanto. Não temos como. E justamente por isso precisamos de vocês”. Na última tentativa de gastar muito para tentar subir, foi montado um elenco muito bom, mas o acesso escapou porque não temos condições estruturais e de gestão para manter um grupo de atletas focado pelo tempo suficiente. Além disso, ficaram dívidas que cobram até hoje seu preço. Deveria ser decretado à diretoria, aos atletas, aos funcionários, à imprensa: é proibido falar em acesso antes de se conquistarem 45 pontos na série B corrente e antes de se conquistar um título estadual.
É nítido que definhamos. Nossa situação só não é pior em termos de apelo e visibilidade porque nossos rivais locais são muito incompetentes dentro de campo (o que pode ser apenas questão de tempo para mudar). E também porque, apesar de tudo, nossa camisa ainda significa algo muito importante e subjetivo, alguma coisa que impõe um certo aviso: “cuidado, esta instituição pode se reerguer e enrabar seu time novamente a qualquer momento”. Mas precisamos reconhecer que não dá para torcer para o Paraná esperando que ele vá ser campeão ou conseguir um belo feito tão logo. E o planejamento da gestão paranista também deve seguir isso.
Mas o que significa assumir essa postura? Reconhecer que o Paraná Clube e sua massa de 300 mil torcedores hoje são incapazes de gerar, sozinhos, a receita que a instituição precisa para se reerguer. E que, consequentemente, a solução passa por buscar união com clubes em patamar semelhante para gritar contra o sistema que faz um Internacional-RS receber 20x mais dinheiro que 18 concorrentes de série B, por exemplo. Buscar mostrar ao Brasil (e aos potenciais patrocinadores) a ideia de que é honroso, válido e gratificante dar prioridade a colocar a casa em ordem em detrimento de investimentos suntuosos no ralo de dinheiro que é o futebol.
Mas não adianta nada convencer o “sistema” sem que antes a própria torcida compreenda esta situação. Hoje é totalmente compreensível o afastamento da nação tricolor, o acúmulo progressivo de desrespeito ao torcedor atingiu seu ápice em 2016. Mas isso não isenta a torcida de sua omissão histórica. Até 2006 o time jogava a série A, tinha menos dívidas, mais patrimonios e um lastro maior para tentar se recuperar das dívidas. Ainda assim, os torcedores em geral dormiram em berço esplêndido e hoje muito do que se vê é culpa dessa omissão. Não só do torcedor médio, mas principalmente dos Conselhos previstos no estatuto, que permitiram que muita barbaridade acontecesse até aqui e que atualmente, mesmo com bastante oxigenação, ainda tenham – principalmente no Deliberativo – uma maioria de vaquinhas de presépio que caem em qualquer ladainha e uma sufocada minoria lúcida e questionadora. Mudar esse panorama de omissão e começar a comprar as brigas do clube é o desafio da vez para a torcida paranista.
Só que a diretoria também precisa ajudar nesse desafio. Parar de desrespeitar o sócio e o torcedor é o primeiro passo. Fidelização é importante, são os sócios que dão uma renda “fixa” e que podem dar um gás novo na vida política da instituição. Mas o torcedor comum precisa ser fisgado novamente. E não falo só de fazê-lo ir ao estádio, mas antes disso ainda fisgá-lo para que ele volte a buscar notícias do clube, volte a se interessar pelo que acontece. E para isso é necessário mostrar seriedade. Para isso, seguem algumas sugestões.
1 – Buscar reuniões extrajudiciais com credores, demonstrar boa vontade na redução de dívidas.
2 – Parar de tratar o programa de sócios como um pacote de ingressos maquiado. Se o clube busca, na fidelização, uma tentativa de ter uma renda mais estável por parte dos torcedores, ela não pode ser volúvel, que é o que acontece quando depende apenas de resultados de campo. É óbvio que se temos condição financeira ruim os resultados tendem a ser ruins, e isso tende fazer o torcedor buscar dar mais vazão a outras prioridades da vida, ainda mais em tempo de crise. Dar vantagens reais ao associado (não só 10% de desconto na loja), buscar parcerias para que ele possa ter uma rede de confiança e sentir que o Paraná Clube faz parte da rotina dele em outras demandas cotidianas – academia, atividades, piscina, estabelecimentos comerciais, eventos (já que hoje praticamente não existe mais a parte social do clube). Aquela instabilidade de brincar com realização e abolição repentinas de promoções de ingressos e produtos de forma inconstante só arrebenta ainda mais as chances de o torcedor se sentir respeitado.
3 – A principal: adotar um Conselho não oficial, não previsto em Estatuto. Uma espécie de “Conselho Consultivo Popular”, composto por torcedores sócios (60 a 75%) e não-sócios (25 a 40%), que seria chamado quinzenalmente ou mensalmente para discutir medidas (especialmente as que não necessitam de aprovação prévia nos Conselhos previstos em Estatuto) que o Conselho Gestor venha a cogitar, como ações para sócios, promoções, ações de mercado, ações no departamento de futebol etc, totalizando no máximo vinte pessoas. A ideia dessa proposta é a de gerar uma gestão participativa, em que a diretoria acabe partilhando uma parcela de responsabilidade de seus erros e acertos com a torcida, representada por este Conselho sugerido.
4 – No futebol, estipular internamente uma meta de um número máximo irrisório para resultados adversos em casa. Afinal, poucas coisas desanimam mais o torcedor do que ir ao estádio e ver o time perder.
Desejo que neste aniversário de 27 anos, diretoria e torcida reflitam sobre o que cada um pode fazer de diferente daqui para a frente. Que ambos os lados considerem aceitar nosso atual tamanho no cenário futebolístico e as implicações do fato, bem como as soluções que surgem a partir desta aceitação.
Mas espero que, apesar de todo esse choque de realidade, não nos esqueçamos do quanto essas três cores são capazes de mexer conosco. Do quanto, com a casa em ordem, ainda somos capazes de crescer novamente e buscar nosso digno lugar ao sol.
Parabéns, Paraná Clube! Parabéns pelos 27 anos de vida completados. Apesar de tudo de ruim que já aconteceu, a instituição ainda vive. Contrariando principalmente uma corja de despeitados que conta, à toa, os dias para anunciarmos o nosso fim. Só que isso nunca acontecerá. Até porque, se por um acaso acontecer, nós fazemos um Paraná Clube de novo só para nós.
Eu te amo, meu Tricolor!
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