Âncora ou lastro? – PARTE 4

ventura

Esse é o último texto da minha série argumentando minha oposição à ideia de venda da sede da Kennedy e encerramento do que sobrou das atividades sociais. Nos textos anteriores, contextualizei o patrimonio, as falhas no trato com o sócio, o potencial que temos de explorar nossa sensação de pertencimento tendo o patrimônio e dando ideias como ele pode ser útil para aumentar nossa influencia junto à sociedade. Se você não leu os anteriores, confira a PARTE 1, a PARTE 2 e a PARTE 3.

No texto de hoje, finalizo falando de gestão e dando outras ideias para tornar útil a sede da Kennedy para o Paraná Clube.

Capítulo 6 – Gestão e Conclusão

Muito se fala sobre as atividades sociais e, consequentemente, o patrimonio da Kennedy, darem prejuízo. Isso só se torna uma (meia) verdade se o enfoque dado buscar esse viés. Dizer basicamente que a sede social custa 450 mil reais anuais em IPTU, por exemplo, é simplista e omite o restante do contexto. Do mesmo modo que seria simplista dizer que dá lucro porque o arrendamento ao Espaço Torres rende em média 800 mil reais por ano. É mais complexo do que isso.

Sejamos francos, o que dá prejuízo de verdade é prometer 60 mil mensais pro Giancarlo, 135 mil por mês pro Cleber Reis (e por aí vai…) e depois ter que pagar com indenização na justiça. É desperdiçar uma classificação na Copa do Brasil em um jogo ganho. É fazer cu doce por patrocínio e continuar com espaços publicáveis em branco sem render dinheiro. É não mandar nem representante em audiências e julgamento de ações. E, vem cá… venda nenhuma, nem  de patrimonio, nem de atleta, vai nos tornar imunes a isso no futuro, certo?

Além disso, as atividades sociais que realmente davam prejuízo na Kennedy já se encerraram. Não tem mais piscina térmica, não tem mais artes marciais e danças com salário progressivo dos professores, por exemplo. Até o estacionamento está rendendo algum dinheiro. Sobrou pouca coisa e, o pouco que sobrou, via de regra, está sempre bem movimentado. Então o que se espera que seja encerrado? Com qual tipo de ganho à instituição?

Se o problema são pessoas que ainda agem nessas atividades cometendo erros e desvios de conduta, que se resolva o papel delas e se apure cada tipo de irregularidade. Em último caso, que se afastem tais pessoas, não precisa encerrar o que sobrou das atividades. Como falei antes, cada uma delas pode virar um mini-trunfo na fidelização de sócio mais para a frente.

Vale lembrar que é na Kennedy que reside o futsal do clube e que, hoje, tal atividade (inclusive, em parceria da APAGA com a Itaipu), é integrada à base do futebol do clube. É de lá que poderemos ter novos Ricardinhos, Giulianos, Thiagos Neves… e isso ajudaria o futebol. Futebol. Em não havendo mais aquele espaço, o clube precisaria ir atrás de outro para abrigar a atividade, gerando custo extra para o clube de…futebol! Para que isso, se já temos o espaço em mãos?

Enfim, citei nesses quatro textos muita coisa. Em resumo, minha oposição à ideia de o clube se desfazer da Kennedy e do social passa por fidelização do sócio, do torcedor comum, integração da instituição à comunidade (fazendo-na, automaticamente, “torcer” no mínimo pelo sucesso do clube, gerando força política para nossos bastidores), pela geração mais barata de potenciais pratas-da-casa para o futebol e pelo choque de gestão nessa mesmice tacanha que ronda a política do clube.

Sei de um grande gestor de um outro clube de futebol da cidade que adoraria ter um espaço como a Kennedy, num lugar como o da Kennedy, para oferecer aos socios de seu time um espaço de convivência e lazer como mais uma pressão para dizer que sua torcida tem obrigação de chegar aos 40 mil associados. É aí que vemos as diferenças apontadas no velho clichê “uns choram, outros vendem lenços”.

O que o clube precisa – com apoio da torcida em geral, mas também (e principalmente) dos torcedores mais “poderosos” – é buscar saídas para reduzir os custos. Do clube em geral, é claro, mas especialmente quanto à sede da Kennedy. E não buscar apoio para terminar de destruir patrimônio.

O IPTU custa caro? Existem leis de incentivo que podem abater até 100% de tal imposto. Tem muito não paranista usando a sede? Divulga de verdade para os sócios do Paraná Clube Brasil que ele tem direito e prioridade a usar aquele patrimônio. O plano de sócios tá uma bosta? Busca parcerias, revitaliza aquele espaço e faz ser parte da vida do torcedor paranista. Tem risco de perder por dívidas em leilão? Tem, mas quantas tentativas de assembleia de credores já foram feitas? O ato trabalhista, por via judicial, ajudou muito nisso. O clube poderia tentar fazer extrajudicialmente, a princípio, com os credores cíveis.

É fácil? Não, óbvio que não é. É, de fato, uma tarefa ingrata botar em prática todas essas saídas. Por isso citei contar com o apoio dos torcedores mais próximos, dos torcedores mais influentes. De peito aberto, com transparência de verdade, sem egos ou interesses de visão contextual do clube. Sem maquiar as historinhas contadas aos conselhos do clube. Com contas de verdade, sem viés subliminar.

Por fim, finanças discutiveis à parte, em que exatamente as atividades sociais atrapalham irremediavelmente o futebol? Eu realmente ainda não consegui ser convencido disso.

Diante de toda essa explanação, consigo ver que não está tão errado quem considera a Kennedy e o social uma âncora para o clube. Mas está, para mim, mais certo também quem considera a Kennedy e o social um lastro para o clube (afinal, se estamos na merda e vai ser tudo penhorado, mesmo, o que irá para penhora depois que não tivermos mais patrimônio? Qualquer centavo que entrar no clube? Enquanto tivermos patrimônio, temos uma chicane possível para casos assim, ainda que já tenham ocorrido e ocorram penhoras de valores).

Mas a gestão e a discussão sincera sobre esses problemas é que vão mostrar se o peso de todo esse patrimônio que temos é mesmo uma âncora ou se conseguimos transformar em um lastro para termos um Paraná Clube forte, honesto em seus anseios, saneado e, principalmente, perene.

Eu estou à disposição para ajudar a discutir o problema com esse patrimonio e as possíveis saídas. Conheço gente que também está. Mas tudo passa por transparência real.

Vejo você na Vila!



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*Nota: O conteúdo postado neste espaço (colunas) é de responsabilidade exclusiva do autor, não necessariamente refletindo a opinião da Paranautas sobre os temas aqui abordados.

One thought on “Âncora ou lastro? – PARTE 4

  1. Concordo plenamente com seu texto Henrique, volto a disser precisamos de uma pessoa que bata na mesa e tenha junto de si outras pessoas dispostas a levantar o Parana Clube, e nao encher o seu bolso. Casos como o do Thiago Neves em que se brincou com o Sr. Rabelo, somente trouxe prejuizo ao clube, quando na verdade se fosse tratado com seriedade pela diretoria da epoca, nao teriamos uma divida enorme. E volto a falar os Paranistas do Bem , estao para ajudar, se sim por que colocar o clube na primeira divergencia entre si na justica.

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