Quem nunca ouviu, em narrações pré-cobrança de falta ou escanteio, o famoso jargão “to sentindo cheiro de gol”? Falar isso em lance de bola parada é fácil, é mole, é lindo. Mas vou contar a você sobre quando descobri como é essa sensação, de verdade, mas com a bola rolando.
Paraná x Londrina, 1994. O Tricolor mais lindo do mundo precisava de uma vitória para levar o caneco do Ruralzão daquele ano. Antes daquele jogo, salvo engano, eu só havia ido em mais um, no ano anterior, contra o Batel de Guarapuava, mas isso é papo pra outro dia. Naquele 05 de junho de 1994 lembro-me da atmosfera ao redor do estádio. Paranistas reunidos, famílias presentes; bandeiras, camisas e faixas de “é campeão” à venda por ambulantes. Tudo aquilo era muito novo e muito fascinante para mim.
Só para variar, meu pai tinha decidido de última hora ir ao jogo e me levar junto. Chegamos ao estádio lotado e achamos um lugarzinho espremido perto do gol que viria a ser onde seria marcado o tento da vitória. O jogo estava tenso, o Paraná já havia perdido um pênalti e tudo indicava que ficaríamos pelo caminho. Mas, aos 42 do segundo tempo, Adoilson recebeu uma “espirrada” de bola. Nessa, hora, senti um “cheiro de gol”. Talvez o aroma da pipoca vendida pelos ambulantes, associada ao cheiro da tragada do inconveniente cigarro do vizinho de arquibancada e um toque do vento batendo no estádio. Uma mistura de essências que caracterizou o momento e que, até hoje, me vem à memória semPRe que um gol está por sair. Enquanto eu sentia esse cheiro, assisti – como se fosse em câmera lenta – ao cruzamento de Adoilson passando por toda a área e chegando à cabeçada certeira de Ney Junior, que estufou a rede adversária. Após a comemoração do gol, só percebi depois de alguns instantes que meu pai estava me puxando para perto do alambrado. Ao apito final, invadimos o gramado, junto de toda uma nação enlouquecida.
Jogo histórico na Vila Olímpica. Para mim, tem o gosto especial de ser o primeiro título visto ao vivo.
Sabe por que resolvi contar esta história particular? Porque hoje o Paraná volta a jogar no campo em que tudo isso aconteceu. A Vila Olímpica é onde eu vi pela primeira vez um título ao vivo do Tricolor! Um estádio com atmosfera diferente, com um “quê” de se sentir mais próximo do que acontece no jogo.
Foi lá que vi esse título, foi lá que vi um dos melhores atacantes que já passou pelo Paraná fazer um ótimo jogo contra nós, ainda pelo Caxias – cheguei no dia 24 de fevereiro de 1999 à Vila Olímpica aos dois minutos de jogo, bem quando Washington fazia 1×0 para os gaúchos (vencemos aquele jogo por 3×2). E foi lá que aprendi a sentir o quanto é bom para a torcida tricolor ter duas casas tão aconchegantes, apesar de todos os problemas de cada uma delas.
O último jogo com a equipe principal lá foi em 2000, pela copa João Havelange. Mas não foi a última vez que estive lá. Ainda assisti a jogos de categorias de base, assisti à famigerada Copa FPF em 2006 com o time reserva, semPRe me sentindo absolutamente em casa no Boqueirão.
Hoje, retornamos para lá. Espero que para nunca mais deixarmos de usar aquele espaço. Vou a campo com o saudosismo no espírito, lamentando apenas não mais caber nos ombros do meu pai (pelo peso e – convenhamos, né – pela idade). Não ouso dizer que prefiro a Vila Olímpica ou a Vila Capanema. Mas estufo o peito para dizer que sou paranista e tenho duas “segundas casas”.
Marcos
Outro reencontro que acontece neste domingo é com o goleiro Marcos. Seu nome “futebolístico” é igual ao de nascença, mas é raro eu não ver um paranista comentando sobre ele tratado como “Marcão”. Provavelmente porque tão grande seja seu paranismo que o aumentativo chegue a seu nome na visão dos paranistas. Creio que todos os paranistas que sempre idolatraram Régis e Flávio, também certamente idolatram o “Marcão”, e eu obviamente sou um deles. Também estava no estádio no dia em que, contra o Remo, ele fez uma SENHORA defesa no melhor estilo Gordon Banks, numa cabeçada rasteira no canto, o que garantiu o empate que, somado à vitória lá no Norte, selou nossa classificação à final do módulo amarelo da João Havelange de 2000. Em muitos outros jogos também Marcos deu aos paranistas a honra de ver em campo muita seriedade e respeito a essas tão lindas cores. E, hoje, volta a dar esse gostinho para nossa torcida.
Essa série de reencontros certamente deixa esse domingo mais especial!
Vejo você na Vila (agora também na Olímpica)!
Henrique Ventura
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