Nesta semana, foi anunciada a criação de um grupo de jogadores, liderados pelo nosso eterno freguês Alex, com o intuito de pedir uma rediscussão do calendário do futebol brasileiro. A principal reclamação dos 75 atletas é o alto número de jogos que cada equipe disputa e o grupo foi denominado “Bom senso F.C.”, inclusive com a participação dos jogadores tricolores Anderson e Lúcio Flávio.
Muito bem. Realmente, o calendário brasileiro está defasado e a proposta da CBF para 2014 é deveras ridícula. Algo precisa ser feito a respeito e as datas precisam ser rediscutidas. O futebol é um esporte de alto rendimento e o atleta, acima de tudo é um ser humano. Mas, convenhamos, se o único anseio desses jogadores é a mera diminuição de jogos por ano, o movimento perde legitimidade e, digo mais, é egoísta e imediatista.
Não quero nem entrar – ainda – no mérito de teorias conspiratórias, de insinuar, por exemplo, que “A” ou “B” está usando o grupo como marionete para dar um golpe e assumir a CBF – ou uma liga à parte. Mas tenho coisas a questionar.
1 – A realidade dos clubes brasileiros que disputam competições o ano todo é a de pagar salários acima da média nacional geral a treinadores e atletas. Qualquer “cabeça-de-bagre” que se coloca em uma série B ou A não aceita receber menos que R$ 15, 20 mil, chutando baixo (muitos trabalhadores de outras áreas precisariam trabalhar mais de um ano para receber tal quantia…). E muito deles rendem abaixo do esperado, simulam lesões, descuidam-se no extra campo, fazendo com que o investimento neles vá pelo ralo. Tá certo, boleiro se aposenta muito mais cedo do que qualquer outro trabalhador comum e isso, de certo modo, acaba por ser compensado no salário. A questão é: será que esses jogadores seriam honestos o suficiente para lutar, também, por um sistema de pagamento de salários que valorizasse o rendimento de cada atleta?
2 – Ainda sobre a realidade dos clubes, muitos devem milhões. O atual campeão da Libertadores, o último bi-vice-campeão da Copa do Brasil, os times cariocas… E, ainda assim, alimentam cada vez mais um mercado inflacionado, seja repatriando veteranos, superestimando apostas de outros times, pagando rios de dinheiro a treinadores inócuos. Questão: Por que não aproveitar o movimento para pedir a instituição de um Fair Play financeiro, dando um ultimato aos clubes no sentido de “ou negocia e PAGA as dívidas, ou cai de divisão”? A conta acaba estourando no pobre torcedor, que não para de gastar cada vez mais com o time do coração.
3 – O futebol brasileiro possui mais de 600 clubes em atividade. Rediscutir o calendário futebolístico para os clubes de alguma (média ou grande) expressão é importante. Mas o “futebol-verdade” não pode ser aniquilado. Por que não estender o estadual ao longo do ano a partir de 2015, permitindo que os clubes com calendário nacional entrem ao final da competição ou em competições regionalizadas? E, para 2014, por que não abrir uma exceção aos regulamentos e exigir 11 datas para os estaduais, tirando um dos turnos (só o paulista seria inviabilizado nesse sentido)? Questão maior: os atletas envolvidos se importam com a sobrevivência desse “futebol-verdade”?
4 – Em partes, o calendário está inchado porque quem recebe mais cotas das emissoras precisa jogar mais para justificar o investimento. Questão: já que a discussão entre clubes acabaria em “cada um puxando a brasa para sua sardinha”, por que os atletas não aproveitam para incluir isto na pauta também? Por que não lutar por uma divisão mais equalitária das cotas de transmissão, envolvendo também meritocracia técnica e ausência de dívidas? Isso até aumentaria o universo dos clubes “jogáveis” para jogadores cujo padrão salarial tem maior exigência.
Enfim, todo o movimento, o grupo, me parece, a princípio, uma grande falácia, muita fumaça para pouco fogo – que me perdoem os capitães paranistas #A3 e #LF10.
E onde entra o Paraná Clube nisso? É necessário ficar atento aos eventuais acarretamentos de uma discussão dessas. Quando nós precisamos rediscutir calendário em 2012, fecharam as portas. Quando nos foi ofertada a entrada em uma liga, que foi o clube dos 13, peidamos – e pagamos o preço disso até hoje. É hora de batalharmos por um calendário que vá permitir um equilíbrio entre bom rendimento e boa visibilidade para investidores.
Jeito no time
Já falei na coluna anterior, mas não custa ressaltar. O time do Paraná não precisa ser reinventado. Basta ser escalado do modo mais simples, como foi em seus melhores momentos na competição. Mas as peças que não funcionam precisam ser trocadas. Kayke e Fernando Gabriel não vem bem há algum tempo.
Vejo você na Vila!
Henrique Ventura
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