Carta para um coração partido

ventura

Querida Vila Capanema,

Desde pequeno, eu passava os dias ansioso, contando as horas para frequentá-la novamente. Curiosamente, não presenciei nenhum título diante de você, mas mesmo assim dediquei-lhe semPRe o maior carinho. Carreguei um sentimento de transformá-la em minha segunda casa, um mundo paralelo que, por noventa minutos, dava-me prioridades temporárias, transformava-me em supersticioso e tornava-me capaz de ser feliz um minuto após ter sido triste. Não vou enumerar momentos, não pretendo ser injusto com minhas memórias, o que vale é lembrar que já vivenciei fatos normais, emocionantes, lamentáveis e, claro, festivos com você.

Mas eu queria explicar a você que tudo mudou de repente. Vamos seguir nossa relação de modo “exclusivamente profissional”. Você abriga os jogos do meu time, eu dedico-lhe meu respeito e frequento suas dependências enquanto elas servirem. Depois que o time do final da sua rua teve o privilégio de vivenciar um momento épico diante de você na última quarta-feira, com direito até a filminho, meus olhos não veem mais você como viam antigamente. Um asco tomou conta de mim, uma vontade de cuspir na televisão em que via aquelas cenas futebolisticamente obscenas, de um time mafioso e arrogante fazendo festa onde eu cresci aprendendo a gostar de futebol. Perdi o tesão por você minha querida. Restou (ainda bem que restou!) só o respeito. Perdi todo o carinho, a ternura, a ansiedade por estar com você. Me desculpe, fiquei até com certo nojo de você.

Mas não se desespere! O problema não é você! Sou eu! Eu é que trato as suas instalações como definitivamente maculadas. Eu é que me senti profundamente desgostoso com o futebol ao ver o patrimônio do meu clube servindo de trampolim pra gente que usa dinheiro público em patrimônio privado cravar sucesso e ainda usar nossos camarotes para dizer à própria matilha torcida “Chupa, porra! Xinga agora, caralho!”.

Não, não…calma! O problema não é você, nem eu! O problema é quem permitiu que isso tudo acontecesse! O problema é quem, com medo de faltar moedas no ordenado (até porque a captação de recursos não anda bem há tempos), tratou o seu aluguel como uma negociação “normal”, como quem negocia uma troca de figurinhas. É quem permitiu que um rival usasse nosso patrimônio como subsídio fundamental para atingir seus objetivos (e tenha certeza, mein Schatz, que em Paranaguá – por exemplo – os poodles dificilmente teriam metade de seus êxitos dos últimos meses). Eu não quero considerar os motivos de a diretoria ter negociado seu aluguel, ela certamente teve motivações consideráveis, sim, mas não necessariamente “fatais”. Eu não estou julgando o trabalho inteiro dela. Só quero saber de expressar – e que qualquer paranista, inclusive os da diretoria, me entenda – o quão danoso foi ao sentimento de paranismo presenciar o rival do fim da rua fazendo festa em você, minha Vila querida. E o quanto eu reprovo essa abertura de pernas, porque sentimento de torcedor não tem preço. Quem precisa da gente trata como “estratégia” e se dá ao luxo de desdenhar, quem “ajuda”(sic) a gente faz questão de tratar como esmola e ainda pisar um pouco mais.

Deste modo, peço novamente que você não me leve a mal, mas eu não quero mais você. Quando te implodirem (será que ainda demoram uns dois anos?), eu não vou considerar o fim. Porque, pra mim, já acabou.

Com carinho, respeito e pesar,

de um paranista sofrido.

**Achou exagero? Que “o que faz nosso orgulho são as nossas conquistas, os outros que se danem” (com o que até concordo em partes, em outras circunstâncias)? Proponho um exercício. Imagine que você tem um inimigo. Ele descola uma namoradinha que é modelo e a leva para transar logo na SUA (sim, de você!) casa. Usa sua cama pra isso e ainda “suja” o seu lençol. Se você sentiria-se confortável, tenho más notícias….

Olho nele!

Tomo a liberdade de abrir uma subseção nas minhas colunas. A partir de hoje, indicarei nomes que poderiam ser “observáveis” para um eventual aproveitamento no elenco do Paraná Clube. Vamos lá!

  • Wagner Lopes – Treinador – Ferroviária/SP (A2 paulista): Já despachou a gente da Copa do Brasil em 2013 pelo São Bernardo e cheguei a “cantar a pedra” ano passado, quando Dado Cavalcanti falou que não ficaria, de que seria um bom nome para treinar nosso time. Ele acabou acertando com a Ferroviária de Araraquara-SP e nesse sábado pregou mais uma peça ao fazer seu time golear o Santo André por 5×1 fora de casa. É um treinador novo, bom, estudioso e não tão caro. Considerando que o Milton Mendes não anda empolgando, não custa sondar, né…

 

  • Elias – Volante – Bragantino/SP (A1 Paulista): Impressionante a onipresença do cara nos desarmes. Tem como ponto fraco a saída de bola, mas nada que não se resolva com um esquema que permita maior aproximação da meiuca.

 

  • Reinaldo – Atacante – Metropolitano/SC (1a divisão SC): De repente, sumiram as lesões do cara. Talvez, ano passado tenha sido crítico para ele aqui no Paraná, pois vinha de um campeonato (sulcoreano) sem muita exigência física e com ritmo risível de jogos, o que pode ter causado esse “choque” na condição física de um jogador em etapa final de carreira. Saiu daqui melhor preparado, foi para o time de Blumenau e já é o artilheiro do ruralito de SC. Ainda acho que valia tentar JÁ bolar um pré-contrato de produtividade com o cara e tentar trazê-lo de volta pra cá na série B, mesmo que se trabalhe com a hipótese de trazer outro jogador de nível muito próximo. Depois que ele continuar cagando gols por lá a concorrência vai aumentar.

Vejo você na Vila!

Henrique Ventura

@henventura

Todos os domingos, aqui na Paranautas.



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*Nota: O conteúdo postado neste espaço (colunas) é de responsabilidade exclusiva do autor, não necessariamente refletindo a opinião da Paranautas sobre os temas aqui abordados.