A superação de Temple Grandin

ventura

Mary Temple Grandin é uma cientista e ativista conhecida como “A mulher que pensa como uma vaca”. Listada como uma das 100 pessoas mais influentes no mundo,  Temple Grandin é autista e desenvolveu estudos inéditos sobre os métodos de abate humanitário na indústria da carne e dos produtos de origem animal.

Ao se colocar imaginariamente no lugar dos animais, ela estabeleceu conceitos que fogem da filosofia de simples “fluxo da boiada” e individualizou a sensação de cada animal que segue em direção abate já pressentido por ele mesmo. Diante das conclusões tiradas nos estudos (e também em suas introspecções autistas), ela busca apresentar – e apresentou, já! – medidas simples e práticas que atenuem o sofrimento e o desespero dos animais usados para o consumo humano, como mudanças nos corredores dos currais pré-abate. A dificuldade do autismo, para ela, acabou virando um trampolim.

E o que ela tem a ver com o Paraná Clube?

Nossa diretoria tem, em meio à desesperada busca por recursos, cometido alguns erros em relação à sua torcida. Alguns na tentativa empírica, outros pela omissão. Pensando apenas no comportamento “geral” da torcida, aumenta o preço do ingresso para forçar a adesão aos planos de Sócio Torcedor, planeja majorar o Sócio Torcedor para forçar a associação à modalidade Olímpica Individual, deixa de interceder em coisas básicas como os preços dos lanches na Vila e eventual negociação com a concessionária do estacionamento buscando benefícios para sócios nesse sentido. Existem outros erros similares, mas o intuito não é ficar apontando o dedo na ferida. Até porque há quem defenda tais práticas.

O que eu quero dizer é que, seja o que estiver sendo planejado daqui para a frente, a diretoria pense como o torcedor. Mas não como uma simples “boiada” que topa pagar mais caro no ingresso porque já vai semPRe aos jogos e não tem mais opção mesmo, que vai migrar pro Sócio Olímpico só porque o SemPRe Torcedor ficou mais caro ou algo assim. E sim buscando entender o que afasta o torcedor do estádio e da vida do clube.

O que atrai de verdade o torcedor mais afastado? O que ele está usando como desculpa para não ir à Vila ou não se associar? Do que o sócio sente falta? Qual é o custo benefício do que o clube oferece em relação aos valores? Como fazer o cara que só vê seu time apanhar se orgulhar e fazer questão de ir a campo “sofrer”?

A maior parte dos diretores dessa gestão veio da arquibancada e jamais pode esquecer disso. E a diretoria deve – a exemplo de Mary Temple Grandin – usar a série atual de empecilhos que enfrenta e ousar em busca de trazer o torcedor de volta, pensar como ele. E não só como os “3 mil de semPRe”. Pensar também como os “sofazeiros” e desenvolver ações que façam o torcedor – assim como o bovino no pré-abate – tenha atenuado o seu sofrimento atual de ir ao estádio e sinta vontade de participar mais do clube!

Ah, antes que surja a primeira contraposição dizendo “Ah, mas a diretoria precisa pensar profissionalmente, pensar como torcedor é ser amador”, já reitero que falo em “pensar como torcedor” nas ações que o envolvem diretamente, não na gestão como um todo, na qual ela precisa, mesmo, ser mais racional.

A dica pra diretoria já tá dada. Na outra semana (não postarei coluna semana que vem) o puxão de orelha é no torcedor e na imprensa. E talvez seja dolorido.

Vejo você na Vila!

Henrique Ventura

@henventura

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