Nos últimos tempos tem sido difícil o Paraná Clube não ser sinônimo de polêmica e confusão. A bomba da vez é o surgimento de um grupo com supostos 4 milhões de reais (não sei se é mais, não sei se é menos…) disposto a investir esse dinheiro no clube, mas desde que apenas o presidente Rubens Bohlen renuncie ao cargo. O problema é que nesse grupo incluem-se algumas pessoas que pouco agregaram ou até prejudicaram o clube quando passaram pela diretoria, gerando um dilema semelhante ao da velha piadinha do cachorro “Nabunda”. Nessa coluna eu abordo alguns pontos de vista sobre essa situação.
Alguns itens precisam ser levantados. O primeiro fato é o de que realmente Rubens cometeu erros ao longo de suas duas gestões. Teimou em ouvir incondicionalmente e exclusivamente algumas pessoas, deixando de ouvir opinões que poderiam ajudar a se tomarem decisões melhores; e deixou de ter pulso em outras situações em que era necessário um mínimo de intransigência. Teve inabilidade de lidar com as penhoras de recursos e só procurou ajuda externa para pedir dinheiro. Abriu mão de estruturar o clube com pés no chão e apostou todas as fichas no acesso que não veio por detalhes em 2013 como se isso salvasse o clube e acabou aumentando a dívida.
Por outro lado, há contradição e incoerência gritantes na proposta vinda do grupo que ofereceu os R$ 4 milhões. Positivamente, dá para se animar com as intenções da presença de Carlos Werner, conselheiro e ex-mecenas da nossa base, e João “Kiteria”, vice-presidente da Torcida Fúria Independente. Mas também são citados nomes como o de Vavá, Aurival e Aquilino dentre os “salvadores da pátria”. Poxa… o último bom time com o dedo de Vavá foi em 2006, de lá para cá foi uma lástima atrás da outra (2007, primeiro semestre de 2008 e um lapso em 2011). Na época de Aurival houve o estopim da fatídica ação de Leo Rabello contra o Paraná Clube. Aquilino conseguiu ser rebaixado no ruralito. É esse povo que queremos dando pitaco no nosso clube novamente, será? Por que esse aporte (aliás, cabe a ressalva… só uma parte veio, através da mobilização da Fúria com o cheque de R$ 200 mil e os patrocínios de camisa, acompanhados dos patrocínios da Paranautas e do Dr. Tricolor) não veio em 2013, quando faltou pouco para subir? Naquela época alguns envolvidos nesse grupo prezavam pelo “quanto pior, melhor” ou era só desinteresse mesmo?
Além de tudo isso, se pede-se a renúncia de Rubens, por que não se pede a destituição de todo o conselho gestor de uma vez só? Seria mais coerente e traria mais credibilidade ao movimento. De acordo com o novo estatuto, em 15 dias isso seria viável.
Mas sejamos realistas. O clube está mais quebrado que forro de casa abandonada. Não temos perspectiva imediata de entrada de renda que quite plenamente sequer o mês que acabou de vencer. Nesse quadro, a proposta do grupo que quer a saída de Bohlen passa a ser tentadora e, talvez, a única saída.
Rubens Bohlen permanecer no cargo de presidente é a situação mais “conservadora” que há. Os projetos secundários que andam a passos lentíssimos – mas que pelo menos estão no campo das intenções – ainda mantem sobrevida de perspectiva de realização, caso ele saia está implícito, no discurso presente na carta divulgada à imprensa semana passada, que o futebol terá prioridade máxima e o resto ficará ainda mais em banho-maria. Além disso, com sua saída ficaria em xeque a continuidade no clube de gente competente como o Marcelo Nardi, que nos últimos anos foi o primeiro dirigente do futebol que se preocupou em adequar o time à nossa realidade.
Mas para sua permanência ser viável, ele precisa de modo urgente garantir que o clube tenha recursos líquidos para sobreviver neste ano. Se ele quer apoio para seguir no comando, vai precisar conseguir para ontem um aporte no mínimo semelhante ao que o outro grupo oferece. E, se possível, buscar reforços de qualidade a custo zero em clubes da série A (nos moldes do que foi feito com o Santos no ano passado e com o Inter em 2011). Caso contrário, ele terá que pensar no bem imediato do clube e abrir mão de suas convicções e do cargo, pois o risco de greve geral e até mesmo de perda de pontos (a CBF abriu a possibilidade recentemente também) por atraso de salários é extremamente real.
Caso confirme-se esse quadro de insustentabilidade de Bohlen na presidência, confirma-se também a entrada dos novos mecenas como única saída para a sobrevivência imediata do Paraná Clube. E, se isso acontecer, é fundamental que trate-se apenas de uma intervenção “tampão”, e que na eleição de setembro tenhamos chapas independentes em relação tanto a esse grupo (inclusive em relação ao Casinha, o que é difícil, já que ele sempre decidiu eleições…), quanto a Rubens Bohlen.
Além disso, é importante vigiarmos outros aspectos. Os 4 milhões serão destinados exclusivamente ao futebol. Ok. Mas e com que recursos serão pagos os funcionários? As ações trabalhistas acordadas? Os salários retroativamente pendentes? Um eventual ato trabalhista? Como e quando o dinheiro investido será ressarcido ao grupo? Haverá risco de ainda mais ações contra o Tricolor no futuro? E se o Paraná não subir mesmo com esse aporte?
Procurei citar tudo que deve ser discutido nessa situação. Me perguntam de que lado estou, e a tendência é de preferir que o Rubens Bohlen consiga dinheiro para manter o clube sem precisar sair. Na última eleição, ele foi o único que topou segurar o rojão e o pouco que lhe resta de crédito é devido a isso. Mas, se isso não for possível, como é o que a tendência mostra, que abram-se as portas urgentemente para que esse grupo investidor salve pelo menos o 2015 do Paraná. No fim das contas, o único lado em que estou mesmo é o do Paraná Clube. Atingimos o ponto em que a indiferença passa a tomar conta: que venha o que é menos pior para o Paraná Clube no momento.
O que não pode acontecer é ter gente torcendo contra que se consigam recursos sem a saída de Rubens Bohlen, como vejo acontecendo em algumas redes sociais. Buscar recursos não é “esconder” crise nenhuma, é tentar buscar meios de amenizá-la.
Mas, enfim… sinceramente, se me perguntarem novamente se ao atravessar o lago numa canoa estreita eu levo Nabunda ou deixo Nabunda, prefiro torcer para que seja verdade que Nabunda nada.
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LF 300
O verdadeiro torcedor paranista não pode deixar de ir ao jogo de quarta-feira contra o Foz do Iguaçu. Poucos clubes conseguem, atualmente, ter um jogador completando a marca de 300 jogos com sua camisa. Lúcio Flávio completará oficialmente essa marca e merece um público minimamente decente para acompanhar tal feito. Até porque, sem Lucio, pode ser até que nossa discussão nesse ano fosse ser como montar o elenco para a série C 2015…. #LF10 ou #LF300 pode não ser mais o mesmo jogador que começou a carreira aqui, mas merece todo o respeito e apoio da nação paranista.
Vejo você na Vila!
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Henrique Ventura
@henventura
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