Identidade

ventura

Hoje o Paraná Clube joga contra o Botafogo. Mas, ao invés de falar do time, vou falar ainda de um assunto que ainda não abordei por ter falhado ao não escrever nos últimos dez dias. Aproveitando o jogo contra o time que já foi a base da seleção brasileira nas décadas de 50 a 70, abordo algo sobre o que a nossa torcida precisa refletir.

Vamos a um primeiro relato. Há cerca de duas semanas, o Botafogo jogou contra o CRB no estádio Nilton Santos, vulgo Engenhão (Enche-não, na jocosidade dos rivais cariocas). No jogo em questão, o lateral esquerdo Carleto, após dar uma assistência para o gol de Bill, comemorou representando o lance em que o eterno ídolo botafoguense Nilton Santos – também lateral esquerdo – livrou a seleção brasileira de um penalti. Isso mostra o respeito que um lateral, que nem é formado no clube, tem por um ídolo do clube da mesma posição.

Segundo relato. Estive há uns 40 dias no Rio de Janeiro. Como de praxe, com metade da mala composta por camisas do Paraná Clube. Uma delas era a comemorativa dos 300 jogos do Lúcio Flávio. Com ela, andei pelas ruas, pelo metrô, de ônibus. E era impressionante como chamava a atenção de pessoas com a camisa do Botafogo. Mesmo tendo conquistado apenas um estadual e tendo saído de lá contestado, Lúcio Flávio está na memória dos botafoguenses. Até ele, que perto da importância que Garrincha e Nilton Santos tem para eles é um atleta mais “efêmero”, tem seu lugar na memória da torcida botafoguense.

Onde eu quero chegar com esses relatos?

Que nossa torcida em geral precisa aproveitar o confronto de hoje e aprender com os botafoguenses como valorizar os poucos ídolos que temos. Ok, Lúcio Flávio não pode continuar no clube por causa dos reajustes na questão financeira? Paciência. A vida segue, mas não dá pra negar que ele fará falta. Eu vi torcedores comentando que “já vai tarde”, “já não tava jogando nada mesmo” e espero se tratar de um pensamento de uma minoria. Realmente, dentro de campo ele não vinha conseguindo desempenhar seu máximo futebol – até por não ter companhia de tanta qualidade… – e vinha pecando até na bola parada. Mas sem ele arrisco afirmar que teríamos caído até antes da Portuguesa no ano passado. Merece demais o respeito de nossos torcedores.

Ainda não revelamos meio time para a seleção, não conquistamos uma série A, tampouco uma Libertadores. Mas devemos dar valor a quem cria identidade com nossas três cores.

Marcos ainda permanece, aceitou mais um reajuste negativo em seu salário. É outro paranista dentro de campo. Que a torcida paranista saiba valorizar sua presença aqui.

Quanto a Lúcio Flávio, desejo apenas que um dia algum meia que vista nossa camisa no futuro possa dedicar um gol a você com algum gesto, como o  de se ajoelhar com os dedos para o alto quase sem sair do lugar em que arrematou para fazer o gol.

Retorno ao Tricolor com gol e a comemoração clássica

Você já está cravado na história do nosso clube, ao lado de seu próprio tio, Ney Santos, que – assim como você – nos deu a honra de erguer um título nacional.

Goleada histórica em que Lúcio Flávio jogou ao lado do tio Ney Santos

Ao lado de Saulo que, mesmo tendo – como você – cometido o pequeno deslize de jogar no Coritiba, foi o maior artilheiro de nossa trajetória. Ao lado de Serginho Prestes, que nos ajudou a erguer um título nacional e imortalizou – assim como você – um gol genial.

Gol genial contra a Ponte, em que o adversário contava com uma cobrança por baixo da barreira, como Lúcio vinha fazendo.

Ao lado de Ricardinho, que mesmo fazendo – bem como você – a maior parte da carreira fora do clube, fez questão de divulgar o nome do Paraná aos quatro cantos do mundo.

Eu e, tenho certeza, a maioria da torcida, a verdadeira camisa 12, seremos eternamente gratos e realizados por termos visto você vestir nossa camisa 10. O carisma despertado até nas crianças que não viram você jogar aqui no seu começo de carreira termina de ratificar isso.

Espero que a diretoria – seja em qual gestão for – promova um jogo de despedida com nossa camisa quando Lúcio Flávio parar de jogar. Seria um grande passo para nossa torcida consolidar a identificação com seus ídolos. Não só com ele, mas com todos. Os que já temos, e os que ainda estão por vir.

Quanto ao jogo, especificamente, de hoje: não interessa se é contra o clube com maior aporte financeiro da competição. O Paraná tem a obrigação de vencer.

Vejo você na Vila!

Henrique Ventura

@henventura

(quase)Todos os domingos, aqui na Paranautas.



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