Volância, engrenagem emperrada?

ventura

Apesar da campanha “meia-boca” de 2015, o Paraná Clube manteve uma certa base de seu elenco para 2016. De todas as posições, a que mais se manteve intacta foi a de volante. Com as permanências de Uchoa, Fernandes e Jean, o meio de campo defensivo é o setor que, teoricamente, deveria estar mais entrosado, mesmo com a relevante perda de Ricardinho. Até porque apenas Lucas Otavio chegou como reforço para essa função (e chegou mal).

Durante o Ruralito Jean e Uchoa fizeram boas apresentações em conjunto, até porque Fernandes vinha fazendo atuações seguras na lateral esquerdo enquanto Rafael Carioca não voltava satisfatoriamente. Mas quando chegou a série B com sua exigência mais avançada, mostrou-se necessária uma mudança. Claudinei perdeu Rafael Carioca e Jean e lançou Basso, já que também não poderia usar Fernandes nessa função. Mas a dupleta com Uchoa não engrenou e o time perdeu estabilidade, culminando com a demissão do treinador.

Martelotte assumiu e seguiu utilizando Basso como volante, até pela lesão de Jean. Com Rafael Carioca recuperado, utilizou Fernandes na função em que menos compromete. E teve seu auge quando abriu mão de duas artimanhas: lançou Claudevan, até então utilizado menos de 45 minutos na temporada, e recuou Murilo Rangel para uma função de “terceiro volante”, auxiliando a transição, pegando a zaga adversária de frente. Isso funcionou para proteger bem a defesa e, nessa configuração, venceu Vasco e Bragantino fora de casa. Mas não funcionou para impor o jogo de modo a vencer Avaí e Paysandu em casa. E isso que nem vou analisar as duas rodadas mais recentes porque uma passa pelo imponderável do futebol e a outra teve interferência de atuações desastrosas de outros jogadores (Diego Tavares, Murilo Rangel e Lucio Flavio) e um gol mal anulado pelo juizão safado.

Atribuo muito à formação de meio de campo defensivo esse desequilíbrio que gira entre a falta de imposição ofensiva na Vila Capanema e os momentos de pressão do adversário. Eu sei que faltam movimentação do ataque e dos laterais e capricho nos últimos dois toques na bola. Mas detecto dois erros principais. Na marcação, o meio adversário encontra muito espaço para girar a bola. Em um momento de pressão, isso pode fazer toda a diferença, como fez em Criciúma. Na saída de bola, falta alternância de características e movimentação inteligente. Basso tem atuado bem, mas parece estranhar ter que decidir entre marcar ou sair jogando. Os volantes em geral não estão dando aquele “passo” em direção à sobra e estamos arrematando pouco de fora nos rebotes.

O que fazer para equilibrar a volância? Decidir quem pode jogar com quem. Entre Jean, Fernandes e Basso, só um dos três joga, dois deles juntos não. Entre Murilo Rangel, Claudevan e Lucas Otavio, só um dos três, dois deles juntos, não. Ainda poderia ser resgatado o Zé Victor que, pelo pouco que mostrou no jogo da primeira rodada do Ruralito, parece ser um volante mais confiante e com mais qualidade na saída de bola, sem perder o vigor da marcação.

O time paranista tem uma série de defeitos em outros setores para corrigir. Mas acho que mesmo assim cabe a Marcelo Martelotte dar uma atenção a ajustes no setor dos volantes. Pode ser uma pecinha no meio da engrenagem que pode fazer toda a diferença entre patinarmos mais um ano na série B ou finalmente jogarmos como quem quer o acesso.

Vejo você na Vila!

Henrique Ventura

@henventura

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