Manifesto da pulsação

ventura

Enganou-se o torcedor paranista que achou que não ia rolar textão sobre o historico 03 de outubro de 2017. Na última terça-feira, o Paraná Clube fez história e bateu o recorde de publico do estádio do rival Atlético Paranaense. De quebra, venceu o virtual ascendido Internacional e reacendeu a nossa esperança do retorno à série A. E eu não vou conseguir levar adiante as demandas do meu cotidiano se eu não expressar em palavras o que representou essa noite.

Noite em que a favela foi fazer um rolezinho no shopping. Em que dezenas de milhares de vozes humildes deram vida ao cinzento estádio do final da Av. Engenheiros Rebouças. Um evento que trouxe à tona e, ao mesmo tempo, mostrou o tamanho dos absurdos ranço e desdém de tanta gente arrogante que dava o Paraná Clube do meu coração como morto e que, pior que isso, nunca perdeu a oportunidade de tripudiar com os guerreiros tricolores com base nessa presunção cretina.

Há muito tempo eu não escrevia algo derramando tantas lágrimas. Não vou negar que eu também achava uma tarefa hercúlea apagar do coração de tantos paranistas desistentes um histórico de vários anos de mágoas. Mas eu nunca perdi a esperança e ontem fui presenteado com a visão mais linda que já presenciei em toda minha vida acompanhando futebol.

Desde o começo eu já achava que o resultado da partida era secundário, mas ele realmente coroou uma noite mágica. Eu poderia passar mil parágrafos descrevendo cada detalhe que observei. Mas eu quero tentar dimensionar o tamanho desse dia.

Não foram só os 10 anos de série B que fizeram o jogo de terça ser mais especial. Desde o lançamento da campanha, na semana passada, reverberou o trecho que falava que os maiores críticos do Paraná Clube éramos nós. E, sim, somos nós. Sabe por quê? Porque nós podemos ser. Somente nós podemos criticar e sabemos o que significa cada detalhe que nos magoou nos últimos anos.

E a ciência do que representa essa vitória dupla traz embargo à voz e lágrimas aos olhos.

Um choro que não é mesmo só pelos dez anos de segundona que, tomara, aproximam-se do fim. Mas por cada coisa que aconteceu nesse período e que pareceu ter ficado para trás. Desde  cenas degradantes de jogadores acampando na sala de presidência para cobrar seus salários e funcionários que já chegaram a ficar sete meses sem receber seu baixo salário, tendo que passar aperto em casa para sustentar a família, até os baixos publicos em jogos melancolicos numa Vila Capanema chuvosa, descoberta e de concreto bruto.

Mas, principalmente, pela representação da resposta inconsciente e direta a cada crápula oportunista que aproveitou esses detalhes para tripudiar do nosso orgulho, para esnobar nossas tentativas de fazer um Paraná Clube melhor, para desdenhar da tentativa de passar o paranismo para as próximas gerações.

Estamos vivos. Respirando. Pulsando. Vibrando. Nos emocionando.

Para cada “nem vai ter Paraná Clube daqui a uns anos, mesmo”, teremos o paradoxal eco do silêncio incrédulo.

Para cada “ninguém liga para o Paraná”, vemos ainda algumas insistentes tentativas de desvalorizar o feito. Atitude que só mostra que a chumbada foi mordida por quem desdenhava.

A partida foi vencida. O recorde foi batido. E, pela quantidade de jogos mandados pelo outro time lá, um dia será superado. Mas isso não importa, porque vale a história que já está escrita.

Um time que está há dez anos no segundo escalão do futebol nacional foi mandar um jogo no estádio do rival e atingiu a marca de maior público espectador no mesmo ano em que o dono (ou o time do dono) disputou uma taça Libertadores da América e não atingiu tal recorde. Fomos os primeiros a colocar um público maior que o de Copa do Mundo na arena. Essa é a história que todos conheceram e conhecerão. E a história da qual eu e mais 39.413 felizardos fizemos parte.

Para os envolvidos e não envolvidos na nossa praça futebolística, fica também o recado para discussão: a essência do futebol é o povo. Deixem o povo fazer a festa no futebol.

Disseram que não tínhamos torcida. Disseram que nunca mais brigaríamos pelo acesso. Disseram que iríamos fechar as portas.

E fechamos.

Fechamos os portões do estádio financiado com dinheiro público e, dentro dele, fizemos história e mostramos que estamos vivos. Muito vivos. Que nossa pulsação bate do cantinho da sobrancelha até o dedinho do pé.

Essa não é uma mera crônica sobre uma porrada na incredulidade. É um grito de vitalidade. Um manifesto aos quatro cantos de que ninguém, hoje, vibra mais do que nós. Nenhum coração pulsa mais do que o coração do torcedor paranista.

O maior valor desse dia é termos visto a prova material da volubilidade do futebol. Já estivemos no fundo do poço. Estamos perto do lugar ao sol novamente. Eu poderia invocar o clichê de que, se algo acontecesse comigo hoje, eu estaria tão feliz que tudo já teria valido a pena. Mas ficou nítido que ainda temos muitas coisas – especialmente as boas – para vivenciar com esse clube ainda.

Certa vez eu disse (e, sempre que precisar, vou repetir) que, se o Paraná Clube acabasse, a gente faria outro de novo. Mas acho que tá na hora de refazer essa frase. Algo dizendo que, se as conquistas forem grandes demais, fazemos mais um Paraná Clube para comportar tanta alegria. Paranistas para isso já provamos que não faltam.

Para finalizar, pretendo resumir o que aconteceu no dia 03 de outubro de 2017: Mandamos um jogo em um estádio financiado com dinheiro do povo e colocamos o povo lá dentro. O povo fez uma festa emocionante lá dentro e saiu feliz com uma vitória e um recorde batido.

Essa é a historia. O resto é desdém mal intencionado.

Vejo você na Vila! (Ou, quem sabe, na Arena de novo…)



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