A carta branca de Dexter

O Paraná Clube começou 2018 muito mal. Contratações pouco criteriosas, realização de poucas ações efetivas para fidelizar de verdade o torcedor que embarcou na onda maravilhosa de 2017 e uma pitada dos velhos problemas institucionais de semPRe conseguiram esgotar em um mês a paciência construída ao longo dos doze meses do inesquecível ano anterior.

Não quero e nem vou me estender. Ficamos dez anos na merda aguda. Mas já estávamos há mais algum tempo na merda crônica. Nossa defasagem de estrutura física, pessoal, institucional e política foi tamanha, a ponto de ficarmos maravilhados com a irradiação de um pouco mais de conhecimento protocolar de futebol quando da contratação de Rodrigo Pastana, no ano passado.

Sejamos justos: o trabalho funcionou bem em 2017, a margem de acerto foi satisfatória e conseguiu-se montar um projeto em que os acertos de cada parte pesaram mais que os erros, e enfim gerou-se e geriu-se um grupo capaz de, no embalo de uma torcida em transe, subir aos trancos e barrancos à série A e colocar fim a um suplício de uma década obscura.

Colocando mais um pouco de justiça nas ponderações, o clube está mexendo na estrutura das sedes de futebol (fica a dúvida de com que receita, com que aprovação dos interventores jurídicos, assim como dos Conselhos deliberativo e fiscal do clube). Na Vila Capanema, especialmente por demandas burocráticas. No Ninho da Gralha (que, até onde entendi das notícias da época sobre o acordo com Leo Rabello e René Bernardi, agora pertence a Carlos Werner, e não ao Paraná Clube), visando fornecer mais condições para o desempenho da comissão técnica.

Ok. Mas o que transparece de todas essas ações é que são ações oriundas de ideias (e não digo que são ruins, bem pelo contrário…) do executivo de futebol. E o problema disso é que a pessoa que ocupa hoje este cargo pode não estar mais no clube amanhã, seja por propostas externas, seja por não resistir a essa série de resultados e atuações nojentas do time.

A questão que fica é: quanto do planejamento a médio prazo, ideia de gestão (especialmente futebolística) e protocolo de ação da nossa instituição está nas mãos exclusivamente de uma pessoa e quanto está traçado de forma perene para ser aplicado nesta e nas próximas gestões?

O reflexo dessa indefinição (ou da falta de transparência de uma definição) estamos vendo em campo. Um elenco remontado de qualquer jeito, deixando perdido até um técnico com vasta bagagem futebolística e cultural, com rendimento bizarro e jogadores incapazes de compreender e executar uma filosofia de trabalho. Ano passado o time reserva tinha atuações mais dignas que o titular deste ano. Quem está avaliando isso? Quem vai assumir a responsabilidade de dizer “fiz cagada e agora vamos ter que contratar outros 30 pra jogar o segundo semestre passando menos vergonha”?

Enfim, meu problema não é com o Rodrigo Pastana, até porque ele já mostrou ser capaz de acertar. É com a carta branca dada a ele. Ele não é o Dexter, de um famoso cartoon animado da década de 90, e o Paraná Clube não é o laboratório dele. Ou o clube firma posição com relação a esse e outros assuntos, ou o reflexo de nosso futuro breve vai começar a ser visto de forma tenebrosa ao longo deste ano.

Se o time não se espertar e já sofrer uma tragédia na próxima fase da Copa do Brasil, temo pela desmobilização da torcida, do elenco, da comissão técnica e da instituição como um todo.

Queremos reação já!

Vejo você na Vila!



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