Histórias de Paranismo – Parte 1

Eu poderia aproveitar esse hiato de três semanas que o Paraná Clube vai ficar sem jogos para vir aqui e falar de reformulação, de quais tiriças deveriam sair do elenco para a série A, quais reforços deveriam vir, falar da gestão como um todo. Mas, não.

Prefiro aproveitar que, depois de um longo tempo, voltaremos a disputar a divisão do campeonato brasileiro que a minha geração de paranistas cresceu vendo o time jogar. E mexer um pouco com o nosso sentimento de paranismo, que refloresceu com tantas amostras durante o ano passado.

Vou começar com três historinhas curtas, óbvias, bobinhas. Mas que tem uma dimensão oculta inenarrável. Ao final delas, convoco a nação paranista para que apresente suas histórias. Elas podem parar no site da Paranautas.

A escoriação da alma

Cresci com meu pai me ensinando a ser paranista mas, ao mesmo tempo, falando que futebol não leva a nada, que é tudo em torno de dinheiro e que no fim das contas quem está lá jogando não está nem aí para o torcedor (e tá errado?).

Naquele nefasto abril de 2011, o Paraná empatou em 2×2 em casa com o Arapongas e foi rebaixado à série prata do bizarro campeonato paranaense. Voltei com meu pai para casa ouvindo o pós jogo no rádio do carro. Quando chegamos, não descemos do carro. Ficamos ali, absorvendo toda aquela repercussão de algo inacreditável.

Foi quando olhei para o meu pai, meu heroi impassível que tanto falou a vida inteira que o futebol não vale nossas lágrimas, com os olhos marejados. Quieto, incrédulo, embargado. Como em uma escoriação que arranca a pele e mostra camadas mais profundas do corpo, ali eu vi uma alma paranista em sofrimento exposta numa ferida considerável, capaz de mexer no mais durão sentimento paranista.

A descoberta da emoção

No último jogo do ano passado, levei minha filha mais velha ao estádio. Era a primeira vez que ela via tanta gente junta no mesmo lugar, afinal, eram 37 mil tricolores no pinga-mijo. Até o intervalo, a pouca idade dela fazia com que ela se sentisse incomodada com o aperto, com a temperatura morna da partida, com a fumaça da festa, com qualquer coisa que fizesse uma menina de 7 anos achar menos interessante estar lá que ficar em casa brincando.

Mas então o segundo tempo veio repleto de emoções, coroadas com um gol emocionante no último lance do jogo. Explodi de alegria, joguei ela pro alto (e peguei de volta, é claro) e dei um abraço apertado, chorando de emoção. Na caminhada até o carro, ela estava empolgadíssima comentando sobre o quanto foi legal estar lá e, como em um discreto parênteses, me falou bem baixinho: “papai, eu vi que você tava chorando na hora do gol. Eu gostei disso e gostei muito do gol!”.

Nesse momento ela havia descoberto, por mim, o turbilhão de emoções que o Tricolor é capaz de despertar.

Uma memória que nunca acabará

Já neste ano, minha esposa (que não é paranista e, digamos, é um pouco contra eu inserir tanto minhas filhas no mundo do futebol) foi fazer um curso de uma semana longe de casa. Minhas meninas, muito ligadas a ela, aguardavam ansiosamente os momentos em que ela nos ligava para falar com elas.

Eram umas 19h e eu estava dirigindo quando ela ligou. As crianças atenderam, falavam com ela e já era a vez da minha filha mais nova. O papo estava rolando bem entre elas quando passei pelo viaduto adjacente à Vila Capanema. Minha caçula, ao ver o estádio, imediatamente largou o telefone e começou a cantar “É Tricolor, dá-lhe, dá-lhe ô…é Tricolor, dá-lhe, dá-lhe ô…”.

Havia 4 meses que ela não ia a um jogo (o último havia sido aquela vitória insana de 2×1 sobre o Londina), mas ao ver o estádio ela largou uma das coisas pela qual ela mais anseava no dia para entoar um canto que ficou grudado na memória dela. Um canto de puro paranismo.

Eu sei que os resultados e o rendimento do time neste início de ano não foram promissores. Mas a série A está ali e precisamos voltar a curtir este momento de voltarmos a esta competição.

A hora é de apoio total para continuarmos disputando essa competição da qual ficamos tanto tempo longe. E nada melhor que deixar o sentimento paranista afiado para encararmos esse desafio.

Por isso, envie para [email protected] ou [email protected] uma história legal de paranismo que aconteceu com você. Ela pode ser publicada aqui no site.

Vejo você na Vila!



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