No último fim de semana iniciei uma série de textos contra-argumentando a ideia de o Paraná Clube se desfazer de mais um patrimônio, especialmente o imóvel que ainda pode ser um trunfo institucional em nossas mãos. No primeiro texto (confira AQUI), comento sobre o histórico patrimonial do clube. No texto de hoje abordarei contextos mais subjetivos de pertencimento e também iniciarei uma abordagem sobre a realidade dos sócios do nosso Tricolor.
Capítulo 2 – O sócio (parte 1)
Nos “tempos áureos” do Paraná Clube, ser sócio era sinal de ostentação, porque, além do acesso a um dos clubes mais estruturados e badalados da classe média curitibana, era possível acessar a um valor mais em conta os jogos do time que enrabava todo mundo na década de 90. Os funcionários tinham um plano de carreira em que, após certo tempo, nem a soma dos não-sócios praticantes de algumas atividades fecharia a conta para pagar o salário. Mas é obvio que até um chimpanzé minimamente treinado poderia prever que só isso não iria bastar para sustentar esses moldes para sempre.
Na metade dos anos 2000, algum tempo após o advento do Estatuto do Torcedor, espalhou-se pelo Brasil a moda de fidelização pelos planos de “sócio-torcedor”. O Paraná Clube, obviamente, demorou a embarcar nessa tendência (e, aí sim, é o único ponto em que concordo que o social do clube atrapalhou de forma grave a instituição em algum momento). Quando finalmente criou tal modalidade, em 2008, o fez com um dos preços mais atrativos do país, gerou expectativa imensa, mas a fase do time e problemas crônicos com filas injustificáveis e o sistema de gerenciamento impediram que os planos já nascessem “voando”. 11 anos e várias alterações depois, nunca atingimos (tampouco mantivemos) um número de associados que permitisse ao clube contar com essa receita seguramente.
Fomos incapazes de compreender as realidades de adesão que abrangiam todas as nuances de atividades do clube, desde o próprio futebol, que é o carro-chefe e o que nos faz respirar de fato o vermelho, branco e azul, até uma mera partida de bolão na sede da Kennedy. O fato é que, hoje, só é sócio quem realmente pensa em “ajudar” o clube de algum modo. E, sinceramente, é muito pouco pra quem deseja contar com receita constante oriunda disso.
Capítulo 3 – Pertencimento
Já fiz uma baita coluna (confira AQUI) sobre o que representa ser paranista, o que faz alguem ser paranista, se vem de família, se vem do nada, etc. A conclusão a que cheguei é que escolher o Paraná Clube como time do coração é algo que independe do resultado. Para mim, é questão de caráter, de honra, de entender que tudo semPRe vai ser mais difícil para nós. Entender que 2×0, 3×0, nunca serão exatamente resultados seguros para nós durante um jogo. Que, se há 50% de chance de chover em um dia de jogo nosso, os 50% que vão pesar mais provavelmente serão os da chuva. Entender que, por exemplo, não vamos conseguir fazer o que um outro clube da cidade fez, de passar um banhado pro Governo do Estado a preço de ouro e ainda com outro terreno para um CT envolvido na transação, que, convenhamos, talvez tenha sido um dos maiores escândalos do nosso estado e ninguém investigou. É questão de saber que a vida imita o futebol (ou vice-versa?) na imposição de dificuldades e que vivenciar o paranismo é também um preparo para a vida.
E quando essa sensação de identificação, de pertencimento, de caráter, pesa mais na escolha do time do que os resultados em si (e é uma realidade que não acho que tem que mudar, somos diferenciados e loucos exatamente por causa disso), esse pertencimento tem que ser exercitado constantemente para manter o sentimento, a volúpia de defender nossas cores. O que isso tem a ver com a sede da Kennedy e as atividades ainda existentes lá? Quando eu abordar a segunda parte sobre o sócio, fecho esse elo específico.
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No próximo texto, falarei sobre pertencimento e completarei a conversa sobre os sócios.
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Vejo você na Vila!
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