Por Cristiane Fernandes
Escutei alguns torcedores dizendo que “com salário atrasado não dá para cobrar jogador” e gostaria de tecer algumas considerações acerca disso.
Não consigo nem entender, nem concordar com tal observação. Assim como não consigo vislumbrar nenhum benefício ao jogador que decida fazer “corpo mole” em uma partida sob o pretexto de estar com salário atrasado. Cada partida traz visibilidade ao jogador, que é visto como verdadeiro artista, ou deveria ser, seja por ser tratado como celebridade, seja por trabalhar com prazer.
Afora isso, há os aspectos éticos da controvérsia. Cadê o profissionalismo? Pensemos no exemplo do médico, estaria ele respaldado a agir com desídia, porque o paciente não lhe retribuiu? Evidentemente que não. Um advogado estaria legitimado a perder prazos ou colocar o êxito da demanda em risco? Ou, ainda, um jornalista veicularia uma notícia falsa à sociedade para vingar-se do empregador que lhe atrasou os salários? Todas essas hipóteses são absurdas e enxergamos com clareza. Mas, no contexto do futebol isso parece ser normal a alguns.
A meu ver, jogar de má vontade é uma conduta totalmente desproporcional, diante da conduta de não pagar em tempo; não havendo um ponto de equilíbrio entre a conduta de prejudicar o time e receber atrasado. Isso porque, cedo ou tarde, o atleta vai receber seu salário com as devidas correções, já uma omissão deliberada ou um agir propositalmente errado, dentro de campo, podem acarretar uma situação irreversível dentro da competição.
Não estou dizendo com isso que o trabalhador assalariado deva ser complacente irrestritamente com seu empregador, até porque a Constituição Federal assegura o sagrado direito de greve. Mas coisa diversa é querer comparar um trabalhador assalariado que recebe salário médio no Brasil (a média salarial do brasileiro é de R$ 2.340,00), com o salário de jogador de futebol profissional, que aumentou de forma exponencial nas últimas décadas.
Tampouco estou defendendo a irresponsabilidade da Diretoria, que foi eleita sob argumento de fazer uma boa gestão das dívidas então assumidas.
Também não estou mitigando os direitos dos atletas, os quais, aliás, não desconhecem que a impontualidade no pagamento de salários é recorrente em diversos clubes de futebol. Demais disso, essa instabilidade no mercado do futebol não passou despercebida pela Lei Pelé (L. n. 9.615/1998), que prevê a possibilidade de rescisão do contrato com três meses de atraso.
Apenas quero defender que não acho normal querer justificar o baixo rendimento profissional de uma determinada categoria por razões financeiras, ao menos não é isso que se espera de um verdadeiro profissional, comprometido com a causa.
É importante mencionar que no caso do Paraná Clube, segundo consta, os salários não estão atrasados, mas sim os direitos de imagem. Lembrando que, por possuir natureza civil, direito de imagem, em regra, não integra o salário do atleta, razão pela qual não há que se falar em verba alimentar nesse específico valor.
Sinto-me nostálgica do verdadeiro futebol raiz, aquele que fazia o atleta correr de verdade apenas por não admitir ser driblado pelo adversário. Aquele em que o jogador se envergonhava quando tinha que recuar a bola para o goleiro ou pedia desculpas para a torcida quando errava um passe e, sobretudo, que jogava por amor, senão ao time à carreira. Saudades do tempo em que jogador identificava-se com a camisa, respeitando o time que defendia, com o propósito de se destacar porquanto jogava com vontade de ser reconhecido por seu talento.
Hoje sinto que tais coisas são ínfimas perto do verdadeiro escopo do atleta, que é o salário. Como dito antes, não consigo compreender isso, já que a carreira do atleta é efêmera e, assim, o maior valor deveria ser a sua própria imagem no meio.
Por fim, quero deixar claro que não estou aqui imputando a falta de resultados positivos nos últimos sete jogos à conduta do nosso elenco. Evidentemente não posso afirmar isso. Falo de maneira abstrata e universal, querendo dizer, apenas, que, a meu sentir, os aspectos financeiros não podem ser desculpa para esta queda-livre que o Paraná Clube está experienciando. Em suma, é preciso cobrar, sim, boleiros e diretoria.
*Nota: O conteúdo postado neste espaço (colunas) é de responsabilidade exclusiva do autor, não necessariamente refletindo a opinião da Paranautas sobre os temas aqui abordados.
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Bom dia. Quero parabenizar a Doutora e professora Cristiane pelas sábias palavras proferidas em seu texto.
E viva o Paraná Clube.