História do Futebol Feminino – Coluna Gralhas da Vila

Conforme combinamos, esta é a segunda semana que viemos falar por aqui sobre o envolvimento da mulher no meio “futebolístico”.

 

Em colunas anteriores, comentamos que a prática do Futebol Feminino no Brasil só foi liberada em 1979, em um período próximo ao fim da Ditadura Militar. Isto contribuiu para a conquista de novos direitos, mas não necessariamente um desenvolvimento do esporte e a aceitação dele. A Daniela Alfonsi, antropóloga e diretora de conteúdo do Museu do Futebol, afirmou em entrevista ao blog M de Mulher que: “A maior punição foi não ter o desenvolvimento. Foi ter naturalizado durante muitas décadas de que futebol é coisa de homem. Quando que a história mostra que as mulheres já jogavam antes de serem proibidas. Já tinham ligas, clubes femininos, torneios locais, já tinha um desenvolvimento da modalidade que foi completamente interrompido durante muitas décadas e ainda não retomou como deveria, com todo seu vigor. Avançou muito, mas ainda tem muita deficiência no próprio desenvolvimento”.

Hoje, ler uma notícia dessas, chega a ser assustador e causa até um pouco de repulsa. E sabem o que é pior? Ainda temos pessoas que pensam desse jeito misógino. Porém, felizmente, temos vários clubes, grupos, pessoas, empresas, etc, engajadas na naturalização da mulher jogando futebol. 

Estamos aqui hoje, para que vocês conheçam um pouco mais sobre a história do futebol feminino pois acreditamos que isto é primordial para que o esporte receba o seu devido valor. Segundo a FIFA, a primeira partida disputada entre mulheres foi em março de 1885, em Londres. Além disto, noticia-se que a Primeira Guerra Mundial contribuiu para o desenvolvimento do futebol, pois enquanto os homens iam para as batalhas, as mulheres foram trabalhar em fábricas e organizando seus times – assim como era feito por homens. No entanto, após o fim da Guerra, interpretam que, com o retorno dos campeonatos masculinos, excluía-se a necessidade de ter, também, de times femininos e eles foram abolidos na Inglaterra. 

Somente em 1969, a Associação Inglesa de Futebol, criou oficialmente a categoria feminina. Em 1971, a UEFA orientou aos times sobre a necessidade de promover o futebol feminino e, enfim, ele foi consolidado na Europa. Desde de 1984 é realizado o Campeonato Europeu de Futebol Feminino (ou Eurocopa Feminina) e ele acontece a cada 4 anos – o último foi em 2017 e o próximo será em julho de 2021, na Inglaterra. 

Apesar de toda a história estar vinculada à Inglaterra, o país com mais número de ouros é a Alemanha – totalizando 8 títulos de primeiro lugar; seguido da Noruega com apenas 2 ouros e 4 vice-campeonatos. Mas, vale a destacar, que o principal campeonato Mundial – assim como na categoria masculina, é a Copa do Mundo. Em 1986, por ideia dos delegados da FIFA durante a Copa no México surgiu a ideia do torneio feminino. O primeiro foi realizado em 1991 e o último em 2019 e, este, com grande destaque das redes de TVs. Ainda aquém do que gostaríamos, mas com certeza foi um grande marco para o esporte.

E no Brasil?

 

Fizemos várias pesquisas e encontramos muitas divergência sobre qual foi o primeiro time conhecido. Não queremos ser injustas, então vamos contar o que achamos de mais interessante para compartilhar aqui.

Os primeiros times surgiram na cidade de São Paulo, no início do século 20 mas ainda não há documentos que relatem isto, contamos apenas com informações compartilhadas de pessoas que viveram na época e estão disponíveis na internet. As primeiras informações são de um espetáculo de circo (sim, você leu certo) em que um dos shows era uma partida de futebol feminino. Há quem ache “frescura”, mas este preconceito ainda está enraizado na nossa história. A pesquisadora Aira Bonfim, apresenta com imagens no Museu do Futebol (no estádio Pacaembu) os times que começaram a se destacar, já na década de 30. 

O Araguari Atlético Clube, da cidade de mesmo nome no triângulo mineiro, teve grande relevância para a história pois jogaram na época da proibição do futebol feminino aqui no Brasil. E demonstraram, inclusive, a garra e a vontade de fazer acontecer pois jogaram até 1959 em diferentes estados do nosso país e foram filiadas a Federação Mineira. Representaram a resistência feminina e foram notadas pela imprensa.

Depois da finalização da proibição, o time carioca “Radar” também teve muita relevância e é um dos destaques da nossa história. Ganharam por seis anos consecutivos, de 1983 a 1988, a Taça Brasil de Futebol Feminino. Mas, infelizmente, em 1990 o time deixou de existir justamente pelo que lutamos até hoje, trinta anos depois… a baixa valorização, campeonatos vazios e remuneração abaixo da masculina.

(Vale contar, que a modalidade foi regulamentada apenas em 1983, e com isto foi permitida a prática em escolas, a utilização de estádios e participações em competições.)

O primeiro campeonato mundial, na época chamado de Women’s Invitational Tournament e que aconteceu na China, contou com a participação de uma seleção de jogadoras. Porém, infelizmente,  não houve nenhuma confecção, nenhum uniforme, nada… Elas viajaram com sobras de roupas da seleção masculina. Já em 1991, a primeira Copa do Mundo da FIFA, fomos eliminados na primeira fase pois não tínhamos ainda muito apoio e o time foi montado com atletas que participaram de um campeonato experimental e não tiveram tempo hábil de preparação.

A nossa primeira medalha veio em 1999, na Copa do Mundo realizada nos Estados Unidos, inclusive o gol da Sissi sobre a Nigéria nas quartas é até hoje lembrado como um dos mais bonitos da história. Assistam os gols aqui: https://www.youtube.com/watch?v=N797Ks1asPk. A Gralha aqui, confessa, que acha o terceiro gol da Nenê mais bonito. Mas todos tem seu valor!

Temos aqui no Brasil algumas jogadoras destaque como a Formiga que, entre homens e mulheres, é a atleta que mais participou de Copas do Mundo sendo sete ao total (1995, 1999, 2003, 2007, 2011, 2015 e 2019). Ela é também a atleta que mais tem jogos pela nossa Amarelinha, e que superando o Cafu, tem mais de 150 partidas na sua conta (que ainda não está fechada). Hoje, com 42 anos, é capitã do time francês Paris Saint Germain. Não há quem discorde, a Formiga é indiscutivelmente incrível, mas nos mostra a falta de incentivo na modalidade, pois ainda faltam opções para a seleção e que, apenas agora, estamos com possibilidades maiores de revelar novos talentos. Diferente do que ocorre na seleção masculina, pois dificilmente teremos alguém com a idade dela e jogando tantas Copas visto que as categorias de bases e os jogadores novos são considerados “jóias” no futebol.

Há quem compare Pelé com outros jogadores das seleções masculinas e a realidade por aqui não é diferente, dificilmente teremos outra Sissi, outra Marta, Formiga ou Cristiane. Porém, temos a sorte e o privilégio de poder assistir Andressa Alves, Andressinha, Tamires e também acompanhar os novos talentos como Vic Albuquerque que, sem dúvidas, chega para fazer história no futebol.

Não podemos falar de futebol feminino no Brasil e não falar dos dias atuais e da Ferroviária que, para quem não acompanha o Campeonato Brasileiro, pode até passar despercebido. Porém, é um time feminino com títulos continentais e quase 20 anos de investimento. Sim, estão resistindo apresentando um futebol tão bom, que na última Copa oito atletas que já passaram pelo time foram convocadas para a seleção Brasileira – inclusive a Andressa Alves, um dos nossos destaques. 

Hoje mostramos um pouco da história do futebol feminino que vai muito além de dados, fatos e fotos. A história é de muita luta, muita perseverança e principalmente resistência. O futebol respira não só na vila, mas em vários gramados espalhados pelo mundo todo!


INSTAGRAM  TWITTER



Já baixou o app da Paranautas? Baixe agora e fique por dentro de todas as novidades do Tricolor e da Paranautas:

Disponível no Google Play


*Nota: O conteúdo postado neste espaço (colunas) é de responsabilidade exclusiva do autor, não necessariamente refletindo a opinião da Paranautas sobre os temas aqui abordados.