20 anos de uma injustiça reparada na raça e no campo

1999. O futebol brasileiro de Eurico Miranda, Caixa D’água, Ricardo Teixeira e vários outros pupilos da malandragem e da cultura quilíngue esbanjava desorganização. Em uma tentativa de imitar o modelo argentino, foi instituída uma média de pontos para definição de rebaixados no Campeonato Brasileiro. Como, em 1998, o Paraná Clube havia escapado na última rodada, com uma baita vitória sobre o Flamengo de Romário e com um gol de Oseias no apagar das luzes contra o América-MG, a missão de escapar da média em 99 seria árdua. E se mostrou inviável. Mas isso era apenas o começo.

O escândalo do “gato” Sandro Hiroshi fez outros times do então Clube dos 13 buscarem uma virada de mesa, alegando que a confusão toda afetou o resultado final do campeonato. Treta vai, treta vem, e decidiu-se que, em 2000, não haveria Campeonato Brasileiro nem da série A, nem B e nem C. Haveria a Taça João Havelange, dividida em módulos (curiosamente muito similares às divisões do ano anterior), dos quais extrairiam-se os melhores times para um confronto direto numa fase final, remontando, de certo modo, à Copa União de 1987, vencida pelo Sport-PE.

O Paraná Clube acabou ficando no módulo amarelo, muito similar à segunda divisão de 99. Engraçado é que outros times supostamente rebaixados em 99 não foram para lá. E o Fluminense, que subiu da série C em 99, jogou o módulo azul, muito similar à série A. Supostamente, não haveria acesso ou descenso porque era para ser um torneio único, mas ficava a “promessa”  de bastidores de que os classificados dos módulos amarelo e verde e branco para a reta final com os times do módulo azul jogariam uma divisão “acima” em 2001.

Depois de muita luta o Tricolor, após um empate em 1×1 na ida e uma vitória fora de casa por 3×1 na volta, sagrou-se campeão do módulo amarelo da Taça João Havelange. O time escalado por Geninho com Marcos; Gil Baiano (Fabrício), Hilton, Nem e André Dias; Helcio, Fernando Miguel, Lucio Flavio (Fredson) e Ronaldo Alfredo; Reinaldo e Flavio (Narcízio) foi recebido por uma multidão paranista ensandecida no aeroporto e por todo o trajeto na Avenida das Torres.

Nesta coluna, além de contar esta história resumida, vou contar o que lembro da reta final daquele módulo amarelo e citar o que alguns amigos meus relataram lembrar também.

Chuva pesada em Curitiba. Meu pai titubeou, mas acabou concordando em ir comigo naquele jogo na Vila Capanema. Aos 13 anos de idade, eu tinha apenas duas camisetas do Paraná Clube na época, nenhuma oficial. Chegando no estádio, promoção: Camisas da coleção da Finta a R$ 19,90. Ali meu pai me deu minha primeira camisa oficial do nosso clube do coração. E já tratei de vesti-la para o grande confronto daquela noite, semifinal contra o Remo. Um 0x0 puxado, contra uma típica retranca de Paulo Bonamigo, com direito a escaparmos da derrota graças a uma defesa digna de Gordon Banks do “guapo” Marcos em uma cabeçada do avante azulino. Apesar de todas as dificuldades encontradas, saí daquele confronto com a certeza de que a classificação viria. E veio, com um jogaço no Mangueirão, em Belém. Uma vitória heroica por 2×1.

E veio, então, a final. Vila Capanema entupida de gente. Um São Caetano encardido, pingando azeite, veio e arrancou um 1×1. De novo, saí do estádio com a certeza de que buscaríamos o caneco lá em São Paulo. Mas eu não poderia acompanhar, uma vez que já havíamos planejado com muita antecedência uma tão sonhada viagem para o exterior. Confesso que estava exultante por viajar, mas me apertava o coração saber que não poderia acompanhar qual seria o desfecho daquela jornada Tricolor no módulo amarelo. Em 2000, internet ainda era coisa da novela do cigano Igor, não era tão difundida (embora a Paranautas já existisse). Celular era coisa pra se carregar na cintura. E isso me dava a certeza de que ficaria sem saber se copamos ou não.

Mas estava eu, lá fora, no dia 19/11/2000, um dia após a final. Acordei e decidi: “vou dar um jeito de descobrir se ganhamos”. Em meio aos passeios, paramos em uma farmácia. Enquanto meu pai procurava o que ele queria, também fui procurar o que eu queria: um simples jornal. E, ao lado dos caixas, jornais americanos e jornais das principais cidades da América Latina. Dentre Eles, O Estado de S. Paulo. Sem o menor pudor, puxei a única edição e folheei. Fui direto à seção de esportes. No quadrante inferior, quase meia página dedicada ao jogo que eu queria, com o título “Paraná conquista o módulo amarelo”. Ganhei o dia. Vibrei como se lá no Parque Antarctica estivesse, comemorando com os felizardos que presenciaram aquela conquista in loco. Como em 92 eu só tinha 5 anos, esse foi o primeiro grande título do Paraná Clube que comemorei.

O amigo paranista Ricardo Serrato comenta comigo que lembra pouco dos outros jogos, mas que lembra bem das sensações do jogo de ida contra o São Caetano, na Vila, e do jogo televisionado da volta, lá em São Paulo, onde levantamos o caneco. Ele ainda lembrou bem oportunamente do que aconteceu na sequencia. Batemos o Goiás nas oitavas-de-final da junção dos módulos e, nas quartas-de-final, fomos assaltados na derrota por 3×1 em São Januário e ganhamos em um jogo aguerrido no Couto Pereira por 1×0, placar insuficiente para nos classificar à semifinal.

O amigo tricolor Nehemio Neto traz a lembrança do quanto Geninho conseguiu encaixar e montar bem o time, que na primeira fase nos classificamos na terceira colocação do grupo A e diz lembrar de alguns autores dos gols da grande final (Fredson e Reinaldo).

E você, torcedor paranista, o que lembra desse título?



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